9 – Bulhas Cardíacas
As bulhas cardíacas são os sons que ocorrem após o fechamento das válvulas cardíacas. Os sons característicos das bulhas cardíacas não são provocados pelo fechamento das válvulas, mas devido à vibração das válvulas tensas, das paredes do coração, dos grandes vasos e do sangue.
As vibrações se propagam às paredes do tórax e podem ser ouvidas com o auxílio de um estetoscópio. A primeira bulha ocorre após o fechamento das valvas atrioventriculares (tricúspide e mitral). A segunda bulha ocorre após o fechamento das valvas pulmonar e aórtica e o som é provocado pelo estiramento elástico das grandes artérias que causa a rápida movimentação do sangue ao mesmo tempo em sentido anterógrado e retrógrado, provocando reverberação audível.
A terceira bulha possui um som fraco e ocorre no terço médio da diástole. A quarta bulha ou bulha atrial ocorre quando os átrios se contraem. A terceira e a quarta bulha cardíaca raramente são perceptíveis ao estetoscópio. Algumas patologias podem ser detectadas por alterações nas bulhas cardíacas.
A doença reumática possui característica auto-imune (os anticorpos atacam elementos do próprio organismo) e causa lesão nas válvulas cardíacas. É causada pela toxina estreptocócica, sendo muito comum em pacientes que tiveram inflamação na garganta devido infecção pelos estreptococos beta hemolíticos do grupo A de Lancefield. O principal antígeno do estreptococo, o antígeno M, induz a produção de anticorpos que causam reação cruzada com antígenos localizados nos tecidos do paciente, em especial as válvulas cardíacas causando lesões fibrinóides, hemorrágicas e bulbosas.
A válvula mitral é a mais lesada, seguida pela válvula aórtica. A estenose (estreitamento, por abertura incompleta da válvula) ocorre devido à união de partes adjacentes dos folhetos ou válvulas pela formação de tecido fibroso e a regurgitação ocorre devido à dificuldade de fechamento das válvulas.
A alteração das bulhas cardíacas devido às lesões valvulares é conhecida como sopro cardíaco. Os mais comuns são o sopro da estenose aórtica, o sopro da regurgitação aórtica, o sopro da estenose mitral e o sopro da regurgitação mitral. O sopro da estenose aórtica é causado pela passagem do sangue em alta velocidade por uma pequena abertura cicatricial da valva aórtica, provocando aumento da pressão no ventrículo esquerdo e intensa turbulência sanguínea na raíz da aorta.
O som é ouvido durante a sístole devido ao efeito de mangueira estreitada. O sopro da regurgitação aórtica é ouvido na diástole e é causado pelo retorno de parte do sangue da aorta para o ventrículo esquerdo. O sopro da estenose mitral é muito fraco e raramente é ouvido e ocorre devido à dificuldade do sangue em passar do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo.
O sopro da regurgitação mitral ocorre devido ao refluxo de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo e é ouvido durante a sístole, apresentando semelhança com o sopro da regurgitação aórtica. O principal efeito de uma estenose ou regurgitação sobre a circulação é o bombeamento deficiente do coração. As lesões da valva aórtica causam acúmulo de sangue no ventrículo esquerdo e hipertrofia ventricular.
Em alguns casos, mesmo um ventrículo hipertrofiado não consegue bombear quantidades suficientes de sangue, caracterizando a insuficiência cardíaca. O defeito da válvula mitral pode causar arritmias em decorrência da dilatação do átrio esquerdo e consequente aumento da área para transmissão dos impulsos nervosos, além de edema pulmonar com hipertensão das veias e capilares pulmonares.
Pontos de ausculta das bulhas cardíacas.
Estenose aórtica.
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