quinta-feira, 18 de agosto de 2011

IX - Endocrinologia e Reprodução - 8

8 – Gravidez e Parto     

Quando ocorre a ovulação, o óvulo é expelido diretamente para a cavidade peritoneal, onde é capturado pelas franjas das tubas uterinas, sendo levado para seu interior. A fertilização do óvulo ocorre, normalmente, quando ele se acha no início de seu trajeto pela tuba uterina. Em três a quatro dias, o óvulo, já fecundado, é  transportado ao longo da tuba até a cavidade do útero. Durante esse transporte, ele passa por várias etapas de divisão, e, após chegar ao útero,  transforma-se em mórula e blastocisto.
Após chegar ao útero, a mórula e, depois, o blastocisto em desenvolvimento permanecem na cavidade uterina por mais dois a cinco dias antes de ocorrer a implantação no endométrio, o que significa que a implantação se dá geralmente no sétimo ou oitavo dia após a ovulação. A implantação decorre da ação das células trofoblásticas que se desenvolvem na superfície do blastocisto.
Após ocorrer a implantação, as células trofoblásticas e as células blastocísticas subjacentes proliferam rapidamente; e, juntamente com células do endométrio materno, elas formam a placenta e as diversas membranas próprias da gravidez. A principal função da placenta é a de possibilitar a difusão de substâncias alimentares do sangue da mãe para o do feto e a difusão dos produtos de excreção do feto para a mãe.
A placenta também realiza o transporte de oxigênio da mãe para o feto e de dióxido de carbono do feto para a mãe. Na gravidez, a placenta forma gonadotrofina coriônica humana, estrogênios, progesterona e somatomamotropina coriônica humana. A gonadotrofina coriônica humana provoca a persistência do corpo lúteo e impede a ocorrência da menstruação.
A presença no útero de um feto em crescimento significa para a mãe uma carga fisiológica extra, e grande parte da resposta do corpo  materno à gravidez, como o aumento do peso corporal, decorre desse aumento de carga. Entre os efeitos especiais incluem-se o aumento do débito cardíaco, devido ao aumento do fluxo sanguíneo através da placenta; o aumento do fluxo sanguíneo da mãe e a presença do líquido amniótico.

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia: A pré-eclâmpsia ocorre nos últimos quatro meses da gravidez e está associada à hipertensão, proteinúria e edema. A eclâmpsia é bem mais grave que a pré-eclâmpsia, caracterizando-se por extrema espasticidade vascular em todo o corpo, convulsões clônicas seguidas de coma, grande diminuição do débito renal, mau funcionamento do fígado, frequentemente hipertensão extrema e um estado tóxico generalizado do corpo.
Ocorre em geral pouco antes do parto. Sem tratamento, uma porcentagem muito alta das pacientes eclâmpticas vem a falecer. Entretanto, com o uso adequado e imediato de substâncias vasodilatadoras de ação rápida, para normalizar a pressão arterial, e a interrupção imediata da gravidez – por operação cesariana, reduziu a mortalidade foi reduzida para 1% ou menos.

Parto: O aumento da contratilidade uterina próximo ao termo pode ser explicado por alterações hormonais progressivas que causam maior excitabilidade da musculatura uterina.  O principal hormônio responsável pelo aumento das contrações uterinas é a ocitocina, liberada pela hipófise posterior. Durante a maior parte da gravidez, o útero apresenta episódios periódicos de contrações rítmicas fracas e lentas, denominadas contrações de Braxton Hicks. Essas contrações tornam-se cada vez mais fortes no período que antecede o parto e durante o parto.
O trabalho de parto é dividido em três períodos: período de dilatação, período expulsivo e período de dequitação ou secundamento. Durante as primeiras quatro a cinco semanas que se seguem ao parto, o útero involui. Nesse período de involução ocorrem os lóquios(corrimento vaginal inicialmente sanguinolento e depois seroso) que persistem por cerca de uma semana e meia. 
O hormônio prolactina estimula o início da lactação.


IX - Endocrinologia e Reprodução - 7

 7 – Fisiologia Feminina Antes da Gravidez e os Hormônios Femininos 

Nos meados de cada ciclo mensal, normalmente um único óvulo é expelido para a cavidade abdominal por um folículo ovariano. Esse óvulo segue, então, até o útero, após ser captura pelas franjas das das tubas uterinas e, caso tenha sido fertilizado por um espermatozóide, implanta-se no útero, onde se transforma num feto, com placenta e membranas fetais. À época da puberdade, os dois ovários contêm 300.000 a 400.000 óvulos. Cada óvulo é circundado por uma camada única de células e é denominado folículo primordial.
Durante todo o período reprodutivo da mulher, apenas cerca de 400 desses folículos se desenvolvem o suficiente para expelir seus óvulos, enquanto os demais degeneram. À época do final do período reprodutivo, que é denominado menopausa, apenas alguns folículos primordiais permanecem nos ovários e degeneram logo depois. No sistema hormonal feminino, o hipotálamo produz o hormônio liberador de gonadotropinas que estimulam a hipófise anterior a produzir o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH).
Os hormônios ovarianos estrogênio e progesterona são produzidos pelos folículos em resposta aos hormônios liberados pela hipófise anterior. A duração completa do ciclo hormonal é, em média, de 28 dias. O início dos ciclos mensais ocorre entre os 11 e 15 anos de idade. 
No início de cada mês do ciclo feminino, imediatamente após a menstruação, a concentração do hormônio hipofisário FSH aumenta. Ocorre um progressivo aumento do estrogênio, que atinge o seu nível máximo às vésperas da ovulação. Na mulher que apresenta um ciclo sexual regular, a ovulação ocorre 14 dias após o início da menstruação. Aproximadamente dois dias antes da ovulação a secreção de LH pela hipófise anterior aumenta acentuadamente elevando-se de 6 a 10 vezes. Simultaneamente, o FSH aumenta cerca de duas vezes, é quando ocorre a liberação do óvulo. A massa de células da granulosa que permanece no ovário no local da ruptura do folículo transforma-se no corpo lúteo.
Ele então secreta grandes quantidades de progesterona e estrogênio, principalmente progesterona. Após os dias da fase lútea do ciclo ovariano, a grande quantidade de estrogênio e progesterona secretada pelo corpo lúteo causa efeito de feedback negativo sobre o hipotálamo, reduzindo a secreção de LH e FSH. Segue-se então um novo ciclo ovariano. 
Os estrógenos e as progestinas constituem os dois tipos de hormônios sexuais ovarianos.
O mais importante dos estrógenos é o estradiol, e a progestina mais importante é a progesterona. Os estrógenos promovem principalmente a proliferação e o crescimento de células corporais especificamente ligadas às características secundárias femininas. Por sua vez, as progestinas destinam-se quase totalmente à manutenção das condições endometriais que viabilizem o abrigo de uma gravidez e à preparação das mamas para a amamentação.







IX - Endocrinologia e Reprodução - 6

6 – Funções Reprodutivas Masculinas. Os Hormônios Sexuais Masculinos 

As funções reprodutivas masculinas podem ser divididas em três subníveis: a  espermatogênese, o ato sexual masculino e a regulação das funções sexuais masculinas por diversos hormônios. A espermatogênese ocorre em todos os túbulos seminíferos durante a vida sexual ativa, como consequência da estimulação pelos hormônios gonadotrópicos da hipófise anterior.
A espermatogênese começa por volta dos 13 anos e continua pelo resto da vida. Os túbulos seminíferos contêm grande número de células epiteliais germinativas denominadas espermatogônias. Uma parte delas se diferencia para formar os espermatozóides. Após sua formação nos túbulos seminíferos, os espermatozóides passam para o epidídimo. Uma pequena quantidade de espermatozóides pode ser armazenada no epidídimo, mas a maior parte deles fica no canal deferente. As vesículas seminais são glândulas secretoras de material mucóide contendo muita frutose, ácido cítrico e outros nutrientes.
Durante o processo da ejaculação, cada vesícula seminal lança seu conteúdo no ducto ejaculatório, logo após o canal deferente ter aí expelido os espermatozóides. Isso aumenta muito o volume do sêmen ejaculado. A glândula prostática secreta um líquido importante para o acesso do espermatozoide ao óvulo. É provável que o líquido prostático neutralize a acidez da secreção vaginal.
O sêmen, que é ejaculado durante o ato sexual masculino, é constituído pelos líquidos oriundos do canal deferente, das vesículas seminais, da próstata e das glândulas mucosas, especialmente as glândulas bulbouretrais. Ao ser expelido do folículo ovariano para a cavidade abdominal e para as tubas uterinas, o óvulo apresenta múltiplas camadas de células.
Antes de poder fertilizar o óvulo, o espermatozóide deve, primeiro, atravessar a camada de células da granulosa e, depois, penetrar no espesso revestimento do óvulo propriamente dito, a zona pelúcida. O acrossomo do espermatozóide libera, então, a enzima hialuronidase que abre espaço entre as células da granulosa de modo que o espermatozóide possa chegar até o óvulo.

A ação massageadora do ato sexual sobre a glande estimula os órgãos terminais sensitivos, enquanto os sinais sexuais genitais, por sua vez, transitam pelo nervo pudendo, e daí para a porção sacra da medula espinhal, por meio do plexo sacro, subindo, por fim, pela medula, até o cérebro. Os impulsos também podem chegar à medula espinhal a partir de áreas adjacentes ao pênis para auxiliar na estimulação do ato sexual.
 Estímulos psíquicos desencadeiam os processos que permitem a  realização do ato sexual.  Mesmo sem intervenção cerebral, a medula, através de mecanismos reflexos próprios, é suficiente para a realização das etapas do ato sexual. A ereção é a primeira consequência da estimulação sexual masculina. Ela é comandada por sinais  dos nervos parassimpáticos.
Os sinais parassimpáticos dilatam as artérias do pênis, assim permitindo que o sangue arterial flua com alta pressão para o tecido erétil do pênis. A ejaculação é uma função nervosa simpática. Quando o estímulo sexual se torna extremamente intenso, os centros reflexos da medula espinhal começam a emitir impulsos simpáticos, que deixam a medula através de L1 e L2 e chegam aos órgãos genitais. 
Os testículos secretam vários hormônios sexuais masculinos, que são coletivamente denominados androgênios.
O mais significativo é a testosterona, responsável pelos efeitos hormonais e pelas características corporais tipicamente masculinos. A testosterona é formada pelas células intersticiais de Leydig, situada nos interstícios entre os túbulos seminíferos.        Os testículos geralmente descem para o escroto durante os últimos dois ou três meses de gravidez, quando estão secretando quantidade adequada de testosterona.
Quando uma criança do sexo masculino nasce com testículos que não desceram, a administração de testosterona frequentemente faz que isso ocorra da maneira habitual, desde que os canais inguinais sejam suficientemente largos para permitir a passagem dos testículos. A testosterona possui efeitos sobre a distribuição dos pelos corporais, sobre a calvície, sobre a voz, sobre a pele, sobre a formação de proteínas e o desenvolvimento muscular, sobre o crescimento ósseo e sobre as hemácias.
A glândula hipófise anterior secreta dois hormônios gonadotrópicos principais: o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Ambos desempenham papéis importantes no controle da função sexual masculina. O LH estimula as células intersticiais de Leydig a produzirem testosterona. A conversão das espermatogônias em espermatócitos nos túbulos seminíferos é estimulada pelo FSH. A regulação da secreção hipofisária de LH e FSH é feita pelo hipotálamo através do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH).





quarta-feira, 17 de agosto de 2011

IX - Endocrinologia e Reprodução - 5

5 – Hormônio Paratireoideo(PTH), Calcitonina, Metabolismo do Cálcio e Fosfato, Vitamina D e  Ossos. 
A fisiologia dos hormônios paratireóideo e calcitonina está estreitamente relacionada com o metabolismo do cálcio e do fosfato, às funções da vitamina D e à formação dos dentes e ossos.  As principais fontes de cálcio na dieta são o leite e seus derivados, que também são grandes fontes de fosfato.

O cálcio, devido à insolubilidade de muitos de seus compostos,  é mal absorvido pelo tubo intestinal, ao contrário do fosfato que, com exceção dos casos em que existe excesso de cálcio na dieta, é bem absorvido. A vitamina D,  exerce efeito na  absorção de cálcio pelo tubo intestinal e também tem efeitos importantes tanto sobre a deposição, quanto sobre a reabsorção óssea. Essa ação da vitamina D se dá após sua conversão, em 1,25-diidroxicolecalciferol,  por ação hepática e renal.  Quando a concentração de íons cálcio no líquido extracelular cai abaixo do normal, o sistema nervoso vai se tornando progressivamente mais excitável, em razão da maior permeabilidade da membrana neuronal aos íons sódio, o que facilita o início dos potenciais de ação.
A hipocalcemia, quando a concentração de cálcio se torna inferior a 65% da normal, produz o fenômeno conhecido como tetania, caracterizada por contrações musculares, provocadas por descargas espontâneas de fibras nervosas, tornadas  hiperexcitáveis pela ausência da concentração suficiente do íon.
 Hipercalcemia - Quando o nível de cálcio nos líquidos corporais se eleva acima do normal, o sistema nervoso fica deprimido e as atividades reflexas do sistema nervoso central tornam-se mais lentas.
O osso é composto por uma resistente matriz orgânica que é  fortalecida por depósitos de sais de cálcio. O osso está sendo continuamente depositado pelos osteoblastos e continuamente absorvido pelos osteoclastos. A fratura de um osso ativa ao máximo os osteoblastos periósteos e intra-ósseos envolvidos no osso fraturado.


A manutenção da adequada concentração de cálcio extracelular é controlada pelo hormônio paratormônio (PTH), secretado pelas glândulas paratireoideas. 
Normalmente, existem quatro glândulas paratireóideas no ser humano, elas estão localizadas geralmente atrás da glândula tireoide. Sabe-se que o aumento da atividade da glândula paratireóidea causa uma rápida absorção dos sais de cálcio presentes nos ossos, acarretando aumento da concentração de cálcio no líquido extracelular; inversamente, a hipofunção das glândulas paratireóideas causa hipocalcemia, frequentemente acompanhada de tetania.

A calcitonina, secretada pela glândula tireóide, tem efeitos  opostos ao hormônio paratiroideo,  diminuindo a concentração sanguínea de íons cálcio. 
Quando as glândulas paratireóides não secretam o hormônio paratireóideo em quantidade suficiente, os osteoclastos tornam-se quase totalmente inativos. Como consequência, a reabsorção óssea diminui tanto, que o nível de cálcio nos líquidos corporais fica reduzido. O tratamento é feito com paratormônio, vitamina D e cálcio.
O raquitismo (mineralização insuficiente dos ossos) ocorre principalmente em crianças, manifestando-se como resultado de uma deficiência de cálcio e, principalmente, de fosfato, no líquido extracelular. Ordinariamente, entretanto, o raquitismo não se deve à carência de cálcio ou fosfato na dieta, mas sim à deficiência de vitamina D. 
A osteoporose é a mais comum de todas as doenças ósseas em adultos, especialmente na velhice.
Entre as causas mais comuns de osteoporose encontram-se a desnutrição e a deficiência na secreção de estrogênios, pós-menopausa.









terça-feira, 16 de agosto de 2011

IX - Endocrinologia e Reprodução - 4

4 – Insulina, Glucagon e Diabetes Melito

Além das secreções digestivas, o pâncreas produz dois hormônios importantes, a insulina e o glucagon. No pâncreas detectam-se dois tipos de estruturas: os ácinos, que secretam sucos digestivos para o duodeno; e as ilhotas de Langerhans, que secretam insulina e glucagon diretamente para o sangue. As ilhotas de Langerhans apresentam três tipos de células: alfa, beta e delta.
As células beta secretam insulina, as células alfa secretam glucagon e as células delta secretam somatostatina, que exerce função inibitória tanto do hormônio do crescimento(GH) ou somatotrofina, quanto do TSH (hormônio estimulante da tireóide).

A insulina ativa os receptores das células-alvo, tornando suas membranas altamente permeáveis à glicose.
Imediatamente após uma refeição rica em carboidratos, a elevação da glicose no sangue causa uma rápida secreção de insulina. Esta, por sua vez, promove a captação, o armazenamento (no fígado e no tecido adiposo) e a rápida utilização (cujos efeitos são notados principalmente na função muscular) da glicose por todos os tecidos corporais.
Quando os músculos não estão sendo exercitados durante o período subsequente às refeições, parte da glicose que está sendo transportada em abundância para as células musculares é armazenada sob a forma de glicogênio muscular, para posterior utilização.  Um dos efeitos da insulina é fazer com que a maior parte da glicose absorvida após uma refeição seja rapidamente armazenada no fígado, sob a forma de glicogênio.
Assim, o fígado, funciona como um sistema tampão da glicose  sanguínea, removendo glicose do sangue quando ela está  em maior concentração, logo após uma refeição, e a devolvendo ao sangue, quando sua concentração sanguínea cai entre as refeições. Com relação à insulina, o cérebro responde de forma diversa dos demais tecidos do corpo, visto que nele a insulina exerce pouco ou nenhum efeito sobre a captação ou a utilização da glicose. Isso se deve ao fato das células cerebrais serem permeáveis à glicose e poderem utilizá-la sem a intermediação da insulina. As células cerebrais utilizam a glicose com fins exclusivamente energéticos. 
Por esta razão, é importante que o nível sanguíneo de glicose seja mantido dentro de certos parâmetros. Quando a glicemia  cai em demasia, aparecem os sintomas da  hipoglicemia, caracterizada por tremores, irritabilidade nervosa progressiva, possibilidade de desfalecimento, convulsões e mesmo coma. Na ausência de insulina, o organismo ativa mecanismos que promovem a degradação e utilização da gordura para fornecimento de energia. 
A concentração sanguínea de glicose e a secreção de insulina apresentam uma relação de feedback positivo. Quando a glicemia aumenta, a secreção de insulina aumenta rapidamente.

O glucagon exerce funções opostas às da insulina. A mais significativa delas é seu efeito de aumentar a concentração sanguínea de glicose, retirando-a das reservas do fígado  e dos músculos (por glicogenólise ou gliconeogênese). Uma injeção de glucagon purificado produz intenso efeito hiperglicêmico. O aumento da glicose sanguínea inibe a secreção de glucagon.

Em pessoas normais, a concentração sanguínea de glicose é mantida dentro de limites muito estreitos, em geral na faixa de 80 a 100 mg/dl,  quando em jejum, podendo chegar a 140 mg/dl após uma refeição. 

O diabetes melito decorre da diminuição da secreção de insulina pelas células beta das ilhotas de Langerhans. Deve ser considerada a importância da herança genética no aparecimento do diabetes. Fatores hereditários determinam uma maior suscetibilidade das células beta aos vírus ou favorecem ao desenvolvimento de anticorpos auto-imunes contra as células beta e, em outros casos, parece haver uma simples tendência hereditária para a degeneração dessas células.

Uma dieta com excesso de carboidratos, além de favorecer à obesidade, também contribui para o desenvolvimento do diabetes.


O tratamento do diabetes se baseia na administração de insulina,  visando a normalização do metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas.  Os pacientes diabéticos têm tendência acentuada ao desenvolvimento de aterosclerose, cardiopatia coronária grave e múltiplas lesões microcirculatórias.
















segunda-feira, 15 de agosto de 2011

IX - Endocrinologia e Reprodução - 3 B - Addison e Cushing

O hipocorticolismo, ou doença de Addison, resulta da produção insuficiente de hormônios córtico-supra-renais.   Essa deficiência é  freqüentemente causada pela atrofia primária do córtex supra renal, decorrente, em cerca de 80% dos casos, de auto-imunidade contra o próprio córtex. Entretanto, também pode ser causada pela destruição tuberculosa das glândulas supra renais ou por câncer no córtex.  Basicamente, a doença de Addison caracteriza-se pela deficiência de mineralocorticóides e de glicocorticóides.


A deficiência de mineralocorticóides, com  aldosterona sendo insuficientemente secretada, provoca a  diminuição da reabsorção de sódio,  com perda desse íon e cloro pela urina, com consequente redução do líquido extracelular.    A falta de reabsorção do sódio provoca hipercalemia (excesso de potássio) e acidose (excesso de H+),visto que esses íons deveriam ter sido trocados pelo sódio. A depleção do líquido extracelular resulta numa redução do volume plasmático e num aumento da concentração dos eritrócitos, com redução do débito cardíaco. A cessação completa da secreção de mineralocorticóides leva o paciente não-tratado à morte dentro de 4 dias a 2 semanas.


A deficiência de glicocorticóides resulta na incapacidade, por falta de secreção de cortisol, de manutenção de glicemia entre as refeições, por insuficiência no processo da gliconeogênese e pela redução dos processos de obtenção de energia via mobilização de gorduras e proteínas dos tecidos. O cortisol insuficiente implica em fraqueza muscular, mesmo na presença de glicose e outros nutrientes, deixando clara a sua importância na manutenção das funções metabólicas dos tecidos.




O portador da doença de Addison, pela incapacidade de ter atendidas suas necessidades agudas de glicorticóides adicionais,   é altamente suscetível aos efeitos de estresse e uma simples infecção respiratória pode levá-lo à morte.


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O Hiperadrenalismo ou síndrome de Cushing é a hipersecreção de cortisol pelo córtex. É causado por tumor ou por hiperplasia dos córtices supra renais (esta por sua vez é provocada por uma secreção aumentada de ACTH (hormônio adeno-corticotrófico) pela adeno-hipófise (lobo anterior da hipófise) ou oriundo de uma fonte ectópica (como por exemplo um carcinoma abdominal)). Esse aumento do cortisol, devido a seu efeito ligeiramente mineralocorticóide, é causador de hipertensão. O cortisol excessivo causa aumento da glicemia, em função do incremento da gliconeogênese. Esse "diabetes supra-renal" leva à exaustão das ilhotas de Langerhans no pâncreas, provocada por uma demanda anormal por insulina, resultando em diabetes melito. O excesso de glicocorticóides aumenta também o catabolismo protéico, com redução acentuada das proteínas teciduais. Além de fraqueza muscular, a falta de síntese proteica nos tecidos linfoides leva à supressão do sistema imune, abrindo a possibilidade de morte por infecção. Ocorre também uma redução das fibras colágenas no subcutâneo, o que deixa os tecidos sujeitos à fácil dilaceração. A falta de deposição de proteína nos ossos provoca osteoporose. 
    O tratamento da doença de Cushing consiste na remoção do tumor.

domingo, 14 de agosto de 2011

IX - Endocrinologia e Reprodução - 3 A

3 – Os Hormônios Córtico-Supra-Renais 

A glândula supra-renal divide-se em medula e córtex. A medula da supra-renal secreta os hormônios epinefrina e norepinefrina em resposta à estimulação simpática. Esses hormônios causam uma resposta sistêmica equivalente a uma estimulação simultânea direta pelos nervos simpáticos em todas as partes do corpo. O córtex supra-renal secreta um grupo totalmente diferente de hormônios, denominados corticosteróides.
Os dois tipos principais de corticosteróides são os mineralocorticóides e os glicocorticóides. Os mineralocorticóides afetam especialmente os eletrólitos dos líquidos extracelulares – particularmente o sódio e o potássio. Os glicocorticóides, por sua vez, aumentam a concentração sanguínea de glicose. Exercem também influência sobre o metabolismo das proteínas e dos lipídios.  O principal mineralocorticóide é aldosterona e o principal glicocorticóide é o cortisol, ou hidrocortisona. Ambos são considerados os hormônios esteróides de  maior importãncia no corpo.
A função sem dúvida mais importante da aldosterona é a de promover o transporte de sódio e potássio através das paredes dos túbulos renais e, em menor grau, o transporte de hidrogênio. Os principais efeitos do cortisol sobre o metabolismo dos carboidratos são a estimulação da gliconeogênese hepática (formação de glicose a partir das proteínas), a diminuição da utilização de glicose pelas células e a elevação da concentração sanguínea de glicose.
O cortisol possui efeitos antiinflamatórios agindo sobre a enzima fosfolipase A2, importante para a formação do ácido araquidônico. Alguns tipos de estresse, como traumas, infecções  e cirurgias, aumentam a liberação de cortisol.  A secreção de aldosterona pelo córtex supra-renal é controlada principalmente pela ação direta do potássio e da angiotensina sobre as células córtico-supra-renais.

      A regulação da secreção de cortisol é feita pelo hormônio corticotrópico (ACTH) produzido pela hipófise anterior. A secreção de ACTH, por sua vez, é controlada pelo hormônio liberador da corticotropina produzido pelo hipotálamo. O cortisol circulante produz feedback negativo sobre o hipotálamo, diminuindo a formação do hormônio liberador de corticotropina, e sobre a hipófise anterior, diminuindo a formação de ACTH.






sábado, 13 de agosto de 2011

IX - Endocrinologia e Reprodução - 2

2 – Os Hormônios Metabólicos da Tireóide

A glândula tireóide secreta dois hormônios, a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), que exercem profundo efeito sobre o metabolismo corporal. As funções desses hormônios são qualitativamente idênticas, porém diferem quanto à rapidez e a intensidade de ação. A glândula tireóide é composta de grande número de folículos fechados, preenchidos por uma substância secretora denominada colóide e revestidos por células epitelióides cubóides que lançam suas secreções no interior dos folículos.
Os hormônios da tireóide são levados pelo sangue para todo o organismo. Para que seja formada a quantidade normal de tiroxina e triiodotironina, têm que ser ingeridos cerca de 50 mg de iodo a cada ano, aproximadamente 1 mg por semana. O efeito geral do hormônio da tireóide é o de causar, por atacado, a transcrição nuclear de grande número de genes. Como consequência, em virtualmente todas as células corporais ocorre aumento de grande número de enzimas protéicas, proteínas estruturais, proteínas transportadoras e outras substâncias.
O resultado final disso tudo é um aumento generalizado do metabolismo em todo o corpo. A regulação da secreção do hormônio da tireóide é feita através do hormônio tíreo-estimulante (TSH), também conhecido como tireotropina, produzido pela hipófise anterior. Por sua vez, a secreção de TSH é regulada pelo hormônio liberador de tireotropina (TRH), produzido pelo hipotálamo. As principais doenças da tireóide são o hipertireoidismo e o hipotireoidismo. No hipertireoidismo, são encontrados no sangue dos pacientes anticorpos com ações semelhantes às do TSH. Esses anticorpos se ligam aos mesmos receptores aos quais o TSH se fixa, de modo que isso provoca uma continuada ativação das células.
Os anticorpos causadores do hipertireoidismo se formam quase certamente em consequência de auto-imunidade desenvolvida contra o tecido da tireóide. Assim, ao contrário do que se poderia esperar, demonstrou-se através de radioimunoensaio que as concentrações plasmáticas de TSH estão abaixo do normal no hipertireoidismo. Os efeitos do hipotireoidismo são geralmente opostos aos do hipertireoidismo. Uma das principais características do hipotireoidismo é o bócio endêmico.
O mecanismo do desenvolvimento dos grandes bócios endêmicos é o seguinte: A falta do iodo impede a produção do hormônio da tireóide por essa glândula; como consequência, não há hormônio disponível para inibir a produção de TSH pela hipófise anterior através do mecanismo de feedback, o que leva a hipófise a secretar quantidade excessiva de TSH. Este, então, faz as células da tireóide secretarem quantidade enorme de tireoglobulina (colóide) para o interior dos folículos, e a glândula fica cada vez maior.






sexta-feira, 12 de agosto de 2011

IX - Endocrinologia e Reprodução - 1

 1 – Introdução à Endocrinologia. Os Hormônios Hipofisários.

Além de estarem sujeitas ao sistema nervoso, as funções corporais são controladas pelo sistema hormonal ou endócrino. 
O sistema hormonal desempenha importante papel na ocorrência das funções metabólicas.  Os sistemas hormonal e nervoso estão intimamente inter-relacionados. As glândulas supra-renais e a hipófise posterior secretam seus hormônios em resposta a estímulos nervosos e os hormônios da hipófise anterior, normalmente, só são secretados em resposta à ocorrência de atividade nervosa e neuroendócrina no hipotálamo.
Um hormônio é uma substância química secretada por uma célula, por um grupo de células que, quando lançada numa junção celular ou na corrente sanguínea, exerce efeito químio-fisiológico sobre outras células do corpo. 
Os hormônios, quanto à extensão de seus efeitos, são divididos em locais e gerais. São exemplos de hormônios locais a acetilcolina, liberada nas terminações nervosas parassimpáticas e esqueléticas; a secretina, liberada pela parede duodenal e levada pelo sangue até o pâncreas, onde estimula a produção de uma secreção pancreática aquosa e alcalina; e a colecistocinina, que, liberada pelas células do intestino delgado, causa a contração da vesícula biliar e também promove a secreção de enzimas pelo pâncreas.
Os hormônios gerais são secretados por glândulas endócrinas específicas localizadas em diferentes pontos do corpo. Esses hormônios são secretados para o sangue, causando ações fisiológicas em tecidos distantes.


Do ponto de vista químico, os hormônios pertencem a três tipos básicos:


1. Hormônios esteróides. Todos esses hormônios possuem estrutura química semelhante à do colesterol e, na maioria dos casos, derivam do próprio colesterol. Existem diferentes hormônios esteróides secretados:
 (a) pelo córtex supra-renal (cortisol e aldosterona), 
 (b) pelos ovários (estrogênio e progesterona), 
 (c)pelos testículos (testosterona), e 
 (d) pela placenta (estrogênio e progesterona).


2. Derivados do aminoácido tirosina. Dois grupos de hormônios derivam do aminoácido tirosina. Os dois hormônios tireóideos, a tiroxina e a trilodotironina, são formas iodetadas de derivados da tirosina. E os dois principais hormônios da medula supra-renal, a epinefrina e norepinefrina, são catecolaminas, também derivadas da tirosina.


3. Proteínas ou peptídios. Todos os demais hormônios endócrinos importantes são proteínas, peptídios ou derivados imediatos deles. Os hormônios do lobo anterior da hipófise são proteínas ou grandes polipeptídios; os hormônios do lobo posterior da hipófise, o hormônio antidiurético e a ocitocina, são peptídios, contendo, cada um, apenas oito aminoácidos. Por fim, a insulina, o glucagon e o paratormônio são grandes polipeptídios.


Hormônios da Hipófise Anterior

1.O hormônio do crescimento causa o crescimento de quase todas as celulas e tecidos do corpo.
2.A corticotropina faz com que o córtex supra-renal secrete os hormônios córtico-supra-renais.
3.O hormônio estimulador da tireóide faz a glândula tireóide secretar tiroxina e triiodotironina.
4.O hormônio folículo-estimulante determina o crescimento dos folículos nos ovários antes da ovulação; também promove a formação dos espermatozóides nos testículos.
5.O hormônio luteinizante contribui significativamente para causar a ovulação; também promove a secreção de hormônios sexuais femininos pelos ovários e da testosterona pelos testículos.
6.A prolactina promove o desenvolvimento das mamas e a secreção do leite. 
  

Hormônios da Hipófise Posterior

1.O hormônio antidiurético (vasopressina) aumenta a reabsorção de água nos rins; em concentrações mais elevadas, também causa constrição dos vasos sanguíneos em todo o corpo e eleva a pressão sanguínea
2.A ocitocina contrai o útero durante o processo do parto; também produz contração das células mioepiteliais das mamas, produzindo a ejeção do leite na amamentação.




Hormônios do Córtex Supra-Renal


    1.O cortisol exerce múltiplas funções no controle do metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios.
    2.A aldosterona reduz a excreção de sódio pelos rins e aumenta a excreção de potássio



Hormônios da Glândula Tireóide


     1.A tiroxina e a triiodotironina aumentam a velocidade das reações químicas em quase todas as células do corpo, aumentando assim o nível geral do metabolismo corporal.
 2.A calcitonina promove a deposição de cálcio nos ossos, diminuindo a concentração de cálcio no líquido extracelular.




Hormônios das Ilhotas de Langerhans do Pâncreas
    
1.A insulina promove a entrada de glicose na maioria das células corporais
2.O glucagon aumenta a liberação de glicose do fígado para os líquidos corporais.


Hormônios dos Ovários

1.O estrogênio estimula o desenvolvimento das características sexuais femininas. É produzido primordialmente pelo folículos ovarianos em maturação (normalmente cerca de 1000 folículos entram em maturação a cada ciclo, embora ocorra geralmente a liberação de um único óvulo).
2.A progesterona estimula a secreção do “leite uterino” pelas glândulas do endométrio uterino; também ajuda a promover o desenvolvimento do aparelho secretor das mamas. É produzido primordialmente pelo corpo lúteo, estágio maduro assumido pelo folículo  após a liberação do óvulo.


Hormônios dos Testículos

1.A testosterona estimula o desenvolvimento das características sexuais  masculinas.


Hormônio da Glândula Paratireóide

1.O paratormônio regula a concentração do íons cálcio no corpo, controlando a absorção de cálcio pelo tubo digestivo, a excreção de cálcio pelos rins e a liberação de cálcio dos ossos.


     Hormônios Placentários

Hormônios como o estrogênio e a progesterona,  normalmente produzidos pelo folículo ovariano e pelo corpo lúteo, uma vez instalada uma gravidez, são progressivamente produzidos pela placenta.

1.A gonadotrofina coriônica humana impede a involução do  corpo lúteo, que normalmente ocorreria no final do ciclo sexual feminino, e estimula o corpo lúteo a secretar estrogênios e progesterona.
2.Os estrogênios promovem o crescimento do útero, das mamas e de seus dutos, da genitália externa, além de promover o relaxamento dos ligamentos pélvicos, tornando as articulações sacro-ilíacas relativamente frouxas.
3.A progesterona promove o desenvolvimento especial do endométrio uterino, transformando-o em endométrio decidualizado, cujas células desempenham papel importante na nutrição inical do embrião. A  progesterona diminui a contratilidade do útero grávido, impedindo que contrações produzam um aborto espontâneo. Ajuda também o estrogênio no preparo das mamas para a lactação.
4.A somatomamotropina Coriônica Humana - Aumenta a disponibilidade de glicose para o feto, reduzindo o consumo materno. Favorece a liberação de ácidos graxos livres da reserva lipídica da mãe. É visto como um hormônio metabólico geral, com implicações nutricionais tanto para a mãe quanto para o feto.


Mecanismos da Ação Hormonal

Normalmente, os hormônios combinam-se com receptores hormonais localizados na superfície da membranas celulares ou no interior das células, desencadeando uma sequencia de reações.

A maioria dos hormônios está presente no sangue em quantidades extremamente pequenas. Por essa razão é praticamente impossível fazer sua detecção pelos meios químicos habituais. Entretanto, existe um método extremamente sensível que revolucionou a dosagem dos hormônios. Tal método é o radioimunoensaio (O radioimunoensaio pode ser utilizado para quantificar hormônios, drogas, marcadores tumorais, alérgenos e anticorpos e antígenos em doenças parasitárias. Há muitas variações, mas o princípio é o mesmo: a quantidade de reagente marcado (antígeno ou anticorpo) quantifica o antígeno ou anticorpo não-marcado na amostra).


O sistema porta-hipofisário é constituído por pequenos vasos comuns ao hipotálamo inferior e à hipófise anterior, unidos através do infundíbulo. Neurônios especiais, situados no hipotálamo, sintetizam e secretam os hormônios hipotalâmicos liberadores e inibidores. A função desses hormônios é a de controlar a secreção dos hormônios da hipófise anterior.

A hipófise posterior não secreta hormônios, ela armazena os hormônios que são transportados do hipotálamo através do trato hipotálamo-hipofisário. O ADH (vasopressina) é formado principalmente nos núcleos supra-ópticos hipotalâmicos, enquanto a ocitocina é formada principalmente nos núcleos paraventriculares do hipotálamo.







Radioimunoensaio (Guyton)



O princípio do radioimunoensaio é o seguinte:

Em primeiro lugar, desenvolve-se um anticorpo em grandes quantidades em algum animal inferior, altamente específico contra o hormônio a ser determinado.

Em segundo lugar, mistura-se uma pequena quantidade desses anticorpos com (1) certa quantidade de líquido do animal contendo o hormônio a ser medido e (2) quantidade apropriada de hormônio padrão purificado, que foi marcado com isótopo radiativo. Todavia, é preciso satisfazer uma condição específica: o anticorpo deve estar presente em quantidades insuficientes para ligar-se à quantidade total de hormônio marcado radiativamente e de hormônio no líquido a ser medido. Assim, o hormônio natural no líquido do ensaio e o hormônio padrão radiativo competem pelos sítios de ligação do anticorpo. No processo de competição, a quantidade de cada um dos hormônios - o natural e o radiativo - que se fixa é proporcional à sua concentração.

Em terceiro lugar, após a ligação ter atingido o equilíbrio, o complexo anticorpo-hormônio é separado do resto da solução, e determina-se a quantidade de hormônio radiativo ligado ao anticorpo por meio de técnicas de contagem radiativa. Quando ocorre ligação de grande quantidade do hormônio radiativo ao anticorpo, isso significa que sô havia uma pequena quantidade do hormônio natural competindo com o hormônio radiativo e que, por conseguinte, a concentração do hormônio natural no líquido testado era pequena. Por outro lado, nos casos em que só ocorre ligação de pequena quantidade de hormônio radiativo, é evidente que existia quantidade muito grande do hormônio natural competindo pelos sítios de ligação.

Por fim, para que o ensaio seja altamente quantitativo, o radioimunoensaio também é realizado com soluções "padrão" de hormônio marcado em diversos níveis diferentes de concentração. A seguir, traça-se a "curva padrão",  Ao comparar as contagens radiativas registradas no ensaio original com a curva padrão, é possível determinar, com erro de ± 10 a 15%, a concentração do hormônio no líquido testado. Esse método determina quase sempre concentrações tão diminutas quanto um trilionésimo de grama de hormônio.


















quinta-feira, 11 de agosto de 2011

VIII - Células do Sangue, Imunologia e Coagulação - 3

3 – Hemostasia e Coagulação

O termo hemostasia significa prevenção da perda de sangue. Sempre que um vaso é seccionado ou se rompe, a hemostasia é feita por diversos mecanismos, incluindo um espasmo vascular, a formação do tampão plaquetário, com a formação de um coágulo sanguíneo como resultado da coagulação do sangue e o crescimento de tecido fibroso no interior do coágulo sanguíneo para fechar permanentemente a descontinuidade que a lesão provocou no vaso.
O tampão plaquetário forma-se quando a ruptura do vaso sanguíneo é muito pequena. As plaquetas são formadas na medula óssea a partir dos megacariócitos e sua concentração normal no sangue fica entre 150.000 e 300.000 por ml. A plaqueta é uma estrutura muito ativa. Ela tem uma meia-vida de 8 a 12 dias no sangue, período ao fim do qual seus processos vitais se esgotam. Quando em contato com uma superfície vascular lesada, como as fibras de colágeno subendotelial, as plaquetas aumentam de tamanho e liberam seus grânulos com substâncias como o ADT e o tromboxano A2. Essas substâncias agem sobre as plaquetas vizinhas estimulando sua aderência, o que dá origem ao tampão plaquetário.
O coágulo desenvolve-se quando o traumatismo da parede vascular é grave. Substâncias ativadoras provenientes tanto da parede vascular traumatizada como das plaquetas e das proteínas sanguíneas que aderem à parede vascular traumatizada dão início ao processo de coagulação. Em resposta à ruptura do vaso ocorre uma complexa cascata de reações químicas no sangue, envolvendo mais de uma dúzia de fatores da coagulação sanguínea. Essas substâncias catalisam a conversão da protrombina em trombina.
A trombina atua como enzima, convertendo o fibrinogênio em filamentos de fibrina, que retêm em sua malha as plaquetas, as células sanguíneas e o plasma, formando o coágulo. Pode ocorrer sangramento excessivo como resultado da deficiência de qualquer um dos múltiplos fatores da coagulação. Uma tendência hemorrágica, em que não são eficazes os mecanismos de hemostasia, pode ser determinada por três causas específicas:  deficiência de vitamina K,  hemofilia e a trombocitopenia.
A hemofilia é causada pela deficiência do fator VIII e do fator IX. Esses dois fatores são transmitidos geneticamente por meio do cromossoma sexual X, em caráter recessivo. Por essa razão, raramente uma mulher apresenta hemofilia, pois seria necessário que a deficiência estivesse presente nos seus dois cromossomas X. Existindo em apenas um, ela será apenas  portadora de hemofilia. Já um homem, como tem apenas um cromossoma X, apresentará a doença se seu cromossoma X for portador da deficiência.  
Um coágulo anormal que se desenvolve em um vaso sanguíneo é denominado trombo.
Uma vez desenvolvido o coágulo, o contínuo fluxo de sangue que passa por ele pode fazer com que se desprenda e seja transportado pelo sangue; esses coágulos são conhecidos como êmbolos. Qualquer aspereza na superfície endotelial de um vaso – como a causada por arteriosclerose, infecção ou trauma – é propícia ao processo de formação de um trombo. O sangue também pode se coagular quando flui muito lentamente pelos vasos sanguíneos.
Uma trombose femoral profunda, pode causar uma embolia pulmonar maciça. Isso ocorre quando o coágulo é suficientemente grande para ocluir as duas artérias pulmonares, e é um incidente fatal. Quando o bloqueio ocorre em apenas uma artéria pulmonar ou num ramo menor,  a embolia pode levar à morte algumas horas a vários dias depois, em virtude do crescimento adicional do coágulo dentro dos vasos pulmonares.
     Em algumas condições tromboembólicas, como a trombose coronária ou a embolia pulmonar, é desejável retardar o processo de coagulação. Por isso, vários anticoagulantes foram desenvolvidos para o tratamento dessas afecções. Os mais úteis para a prática clínica são a heparina e os cumarínicos. Alguns coágulos intravasculares podem ser desfeitos pela injeção de estreptoquinase, que é formada por certos tipos de estreptococos hemolíticos.



terça-feira, 9 de agosto de 2011

VIII - Células do Sangue, Imunologia e Coagulação - 2

2 – Imunidade, Alergia e Grupos Sanguíneos

Imunidade e Alergia

O corpo humano tem a capacidade de resistir a quase todos os tipos de organismos ou toxinas que tendam a lesar tecidos e órgãos. Essa capacidade é denominada imunidade. A imunidade adquirida desenvolve-se depois que o corpo é pela primeira vez agredido por um microorganismo ou por uma toxina bacteriana. Com frequência leva semanas ou meses para desenvolver-se.
Já a imunidade inerente ao organismo decorre de processos gerais e não de processos dirigidos contra organismos patogênicos específicos. Essa é a chamada imunidade inata. A ação dos processos de imunização se faz pela fagocitose; pela destruição de microorganismos pelas secreções ácidas do estômago e pelas enzimas digestivas; pela resistência da pele à invasão por organismos e pela presença de elementos no sangue que se fixam a organismos estranhos ou toxinas, destruindo-os. A imunidade adquirida pode, muitas vezes, conferir grau extremo de proteção. Existem no organismo dois mecanismos básicos, porém estreitamente associados, de imunidade adquirida. Num deles, o corpo elabora anticorpos circulantes, que são moléculas de globulina capazes de atacar o agente invasor. Esse tipo de imunidade é denominado imunidade humoral ou imunidade de células B, porque são os linfócitos B que produzem os anticorpos. O segundo tipo de imunidade adquirida é dado pela formação de grande número de linfócitos ativados especificamente destinados a destruir o agente invasor. Esse tipo de imunidade é chamado de imunidade mediada por células ou imunidade das células T, porque os linfócitos ativados são os linfócitos T.
Tanto os anticorpos como os linfócitos ativados são formados nos tecidos linfóides do corpo. Ambos os tipos de imunidade adquirida são induzidos por antígenos. Em geral, os antígenos são proteínas ou grandes polissacarídeos. O processo de antigenicidade depende de grupos moleculares denominados epítopos.
A imunidade adquirida é produto do sistema linfocitário do corpo. Os linfócitos se localizam predominantemente nos linfonodos, mas também estão presentes em tecidos linfóides especiais como o baço, áreas situadas na submucosa do tubo gastrintestinal e a medula óssea. O tecido linfóide do tubo gastrintestinal, por exemplo, é o primeiro a ser exposto aos antígenos que penetram pelo tubo digestivo.
O tecido linfóide do baço e da medula óssea desempenha o papel específico de interceptar os agentes antigênicos que conseguem chegar ao sangue circulante. Ambos os tipos de linfócitos originam-se no embrião a partir de células-tronco hematopoéticas pluripotenciais. Os linfócitos que são destinados à formação de linfócitos T migram inicialmente para o timo e são aí pré-processados. Os linfócitos B, destinados a formar anticorpos, são pré-processados no fígado, nos meados da vida fetal, e na medula óssea, no fim da vida fetal e depois do nascimento.
Essa população de células foi originalmente descoberta em aves, nas quais o pré-processamento ocorre na bursa de Fabrícius, uma estrutura não encontrada em mamíferos. Depois de formados na medula óssea, os linfócitos T migram primeiro para o timo. Nessa glândula eles se multiplicam com rapidez e reagem com diferentes antígenos específicos.
Esses diferentes tipos de linfócitos T processados deixam então o timo e espalham-se por todo o corpo, alojando-se nos tecidos linfóides. O timo também assegura que os linfócitos T que ele produz não reagirão contra proteínas ou outros antígenos presentes nos próprios tecidos do corpo. O timo seleciona quais os linfócitos T devem ser liberados, primeiro misturando-os com virtualmente todos os “auto-antígenos” específicos existentes nos próprios tecidos do corpo. Se um linfócito T reage, ele é destruído e fagocitado, que é o que acontece com até 90% das células.
Os linfócitos B diferem dos linfócitos T sob dois aspectos: em primeiro lugar, ao invés de a célula como um todo tornar-se reativa contra o antígeno, como ocorre com os linfócitos T, os linfócitos B secretam anticorpos, que são os agentes reativos. Os anticorpos são grandes moléculas protéicas capazes de combinar-se com os antígenos e destruí-los. Em segundo lugar, os linfócitos B apresentam diversidade ainda maior que a dos linfócitos T, dando assim origem a muitos e muitos milhões – talvez até mesmo bilhões – de anticorpos com diferentes reatividades específicas. Após o pré-processamento, os linfócitos B, da mesma forma que os linfócitos T, migram para os tecidos linfóides distribuídos por todo o corpo, onde se alojam a pequena distância das áreas ocupadas pelos linfócitos T.
Quando um antígeno específico entra em contato com os linfócitos T e B no tecido linfóide, alguns dos linfócitos T são ativados para formar “células T ativadas”, e alguns dos linfócitos B formam anticorpos. Há milhões de tipos diferentes de linfócitos B pré-formados e igual número de linfócitos T pré-formados, que são capazes de dar origem a anticorpos ou células T altamente específicas quando estimulados pelos antígenos apropriados. Esse linfócito só pode então ser ativado pelo tipo específico de antígeno com o qual ele pode reagir.
Após ser ativado por seu antígeno específico, o linfócito reproduz-se intensamente. Quando se trata de um linfócito B, seus descendentes acabam por secretar anticorpos que irão circular por todo o corpo. Os linfócitos semelhantes são denominados clones e derivam originalmente de um linfócito específico. No caso dos linfócitos B, cada um deles tem na superfície de sua membrana celular cerca de 100.000 moléculas de anticorpo, que vão reagir estritamente com apenas aquele tipo específico de antígeno. Por isso, quando o antígeno específico se apresenta, ele imediatamente se liga à membrana celular do linfócito e isto leva ao processo de ativação.
No caso dos linfócitos T, moléculas muito semelhantes a anticorpos, denominadas proteínas receptoras de superfície ou marcadores de células T, localizam-se na superfície da membrana celular sendo altamente específicas para o antígeno ativador específico. Antes da exposição a um antígeno específico, os clones de linfócitos B permanecem quiescentes no tecido linfóide. Com a chegada de um antígeno estranho, entretanto, os macrófagos do tecido linfóide fagocitam o antígeno e o apresentam, então, aos linfócitos B adjacentes.
Simultaneamente, o antígeno é apresentado às células T, e então células T “auxiliares” ativadas também passam a contribuir para a ativação dos linfócitos B. Os linfócitos B específicos transformam-se em plasmócitos secretores de anticorpos. Os anticorpos são secretados na linfa e levados para o sangue circulante. Alguns dos linfócitos B, ao invés de transformarem-se em plasmócitos secretores de anticorpos, transformam-se em linfócitos B de memória.
O primeiro contato com o antígeno e que leva à produção de plasmócitos e linfócitos B de memória é denominado resposta primária. A exposição subsequente ao antígeno vai causar, então, uma resposta de anticorpos muito mais rápida e muito mais potente, pois o número de células de memória é muito maior do que o número de linfócitos clonados originalmente presentes. 
A maior potência e a maior duração da resposta secundária explicam por que as vacinações são geralmente efetuadas injetando-se um antígeno em doses múltiplas, com períodos de várias semanas ou vários meses entre as aplicações. Os anticorpos são gamaglobulinas denominadas imunoglobulinas e são compostos por combinações de duas cadeias polipeptídicas leves e duas pesadas. Cada cadeia pesada é paralela a uma cadeia leve em uma de suas extremidades. Cada cadeia possui uma parte variável e uma parte constante.
A parte variável é diferente para cada anticorpo específico  e é essa parte que se fixa a um tipo particular de antígeno. Cada cadeia tem forma estérica diferente para cada especificidade antigênica, possibilitando a ligação do anticorpo ao antígeno. Os anticorpos agem por ataque direto sobre o invasor e pela ativação do sistema do complemento. A ação direta ocorre através de aglutinação de partículas graças à natureza bivalente dos anticorpos, precipitação, neutralização e lise direta das membranas.  (A lise é o processo de ruptura ou dissolução da membrana plasmática ou da parede bacteriana, que leva à morte da célula e à liberação de seu conteúdo.) 
A maior parte da proteção pelos anticorpos, entretanto, vem através dos efeitos amplificadores do sistema do complemento. Complemento é o termo coletivo para descrever um sistema de cerca de 20 proteínas distintas, muitas das quais são precursoras de enzimas. Os principais atores desse sistema são C1 a C9, B e D. Todas elas estão normalmente presentes entre as proteínas plasmáticas. Quando um anticorpo se liga a um antígeno, um sítio reativo específico na parte constante do anticorpo fica descoberto ou ativado.
Esse sítio liga-se à molécula C1 do complemento, desencadeando uma cascata de reações sequenciais. Formam-se múltiplos produtos finais e vários deles causam efeitos importantes como a opsonização pelo C3b e consequente fagocitose, a lise pelo complexo lítico C5b6789, a aglutinação, a neutralização de vírus e a ativação de mastócitos e basófilos pelos fragmentos C3a, C4a e C5a. Após a ativação de células T, ocorre proliferação de linfócitos T e formação de linfócitos T de memória, que aumentam a rapidez da resposta nas exposições subsequentes ao mesmo antígeno.
Há muitos tipos distintos de células T, sendo os principais os linfócitos T auxiliares, T citotóxicos e T supressores. As células T auxiliares constituem a maior parte dos linfócitos T e estimulam o crescimento e a proliferação de células T citotóxicas, células T supressoras e ativam macrófagos por todo o corpo. As células auxiliares é que são inativadas ou destruídas pelo vírus da AIDS. Isto virtualmente paralisa todo o sistema imune, o que acarreta os conhecidos efeitos letais da AIDS.
As células T citotóxicas realizam ataque direto após a fixação através da produção de proteínas formadoras de orifícios, as perforinas. Em seguida, a célula T citotóxica libera substâncias citotóxicas diretamente no interior da célula atacada. Elas também são conhecidas como natural killers e desempenham papel importante na destruição de células malignas e outros tipos de células estranhas. As células T supressoras suprimem as funções tanto das células T citotóxicas, como das células T auxiliares.
Acredita-se que essa função supressora sirva ao propósito de regular as atividades das demais células. O mecanismo pelo qual o sistema imune não agride as células do próprio organismo é conhecido como tolerância imunológica. A maior parte da tolerância resulta da seleção de clones durante o pré-processamento dos linfócitos T no timo e dos linfócitos B na medula óssea.
O fracasso dos mecanismos de tolerância causa as doenças de auto-imunidade como a febre reumática, um tipo de glomerulonefrite, a miastenia grave e o lúpus eritematoso. A alergia ocorre em pessoas que apresentam grande quantidade de anticorpos IgE, os quais possuem forte propensão à fixação em mastócitos e basófilos.
Quando um alérgeno interage com um anticorpo IgE ocorre uma reação alérgica através do rompimento das membranas e liberação dos grânulos presentes nos mastócitos e basófilos. Esses grânulos contém principalmente histamina, substância de reação lenta da anafilaxia ou SRSA que é uma mistura de leucotrienos; a substância quimiotáxica para eosinófilos; a heparina e fatores de ativação plaquetária.         Essas substâncias causam certos fenómenos: dilatação dos vasos sanguíneos locais, atração dos eosinófilos e neutrófilos para o sítio reativo, lesão dos tecidos locais pela protease, aumento da permeabilidade dos capilares e perda de líquido para os tecidos e contração das células musculares lisas locais. Por conseguinte, qualquer um dos diferentes tipos de respostas teciduais anormais pode ocorrer, dependendo do tipo de tecido em que se verifica a reação alérgeno-reagina.


Grupos Sanguíneos

O sangue de pessoas diferentes geralmente tem propriedades antigênicas e imunitárias diversas, de modo que os anticorpos presentes no plasma de um sangue reagem, considerando como antígenos, com elementos existentes na superfície das hemácias de outro sangue. Dois grupos particulares de antígenos têm, mais do que outros, tendência a causar reações transfusionais. São eles o chamado sistema A-B-O de antígenos e o sistema Rh. Os sangues são divididos em diferentes grupos em relação ao sistema A-B-O e tipos em relação ao sistema Rh.
Quando nem o aglutinógeno A nem o B estão presentes, o grupo sanguíneo é o grupo O. Quando apenas o aglutinógeno A está presente, o sangue é do grupo A. Quando apenas o aglutinógeno B está presente, o sangue é do tipo B. Quando ambos os aglutinógenos, A e B, estão presentes, o sangue é do grupo AB. Quando o aglutinógeno tipo A não está presente nas hemácias de uma pessoa, anticorpos conhecidos como aglutininas anti-A se desenvolvem no plasma.
O sangue do grupo O, embora não apresente aglutinógenos, contém tanto a aglutinina anti-A como a anti-B. O sangue do grupo B contém aglutinógenos tipo B e aglutininas anti-A. O sangue do grupo AB contém os aglutinógenos A e B, mas nenhuma aglutinina. As aglutininas são produzidas por indivíduos que não têm as substâncias antigênicas em suas hemácias devido ao fato de que pequenas quantidades de antígenos A e B penetram no corpo por meio de alimentos, de bactérias e de outras maneiras após o nascimento.
No caso de transfusão de sangue de tipos incompatíveis, como as aglutininas têm dois sítios de fixação (tipo IgG) ou dez sítios (tipo IgM), uma única aglutinina pode se fixar a duas ou mais hemácias ao mesmo tempo, fazendo com que elas se aglutinem. Esses aglomerados entopem vasos sanguíneos por todo o sistema circulatório. Durante as horas e dias subsequentes, os leucócitos fagocitários e o sistema retículoendotelial destroem as células aglutinadas, liberando hemoglobina no plasma.
Em algumas reações transfusionais ocorre hemólise imediata por ativação do complemento. Uma das consequências mais letais das reações transfusionais é a insuficiência renal aguda. Quando a quantidade total de hemoglobina no sangue se eleva acima de um nível crítico, grande parte do excesso vaza através das membranas glomerulares para os túbulos renais.
Quando em quantidade pequena, essa hemoglobina pode ser reabsorvida para o sangue pelo epitélio tubular, entretanto, quando a quantidade é grande, apenas uma pequena porcentagem é reabsorvida, fazendo a concentração tubular de hemoglobina elevar-se de tal modo que ela se precipita e bloqueia muitos túbulos. Quando hemácias contendo fator Rh são injetadas em uma pessoa sem esse fator, desenvolvem-se muito lentamente aglutininas anti-Rh.
A transfusão de sangue Rh positivo numa pessoa Rh negativa que nunca tenha sido antes exposta a sangue Rh positivo não causa absolutamente qualquer reação imediata. A eritroblastose fetal é uma doença de fetos e de recém-nascidos, caracterizada por aglutinação progressiva e fagocitose subsequente das hemácias. Na maioria dos casos de eritroblastose fetal, a mãe é negativa e o pai é positivo. O bebê, sendo positivo, faz com que a mãe desenvolva aglutininas anti-Rh. Ocorre aglutinação do sangue fetal e subsequentemente hemólise, liberando hemoglobina no sangue. A ação dos macrófagos leva a um aumento da bilirrubina, em função da grande quantidade de hemoglobina degradada, o que deixa a pele amarelada (icterícia). O tratamento habitual da eritroblastose fetal consiste em substituir o sangue da criança por sangue Rh negativo.