2 – Metabolismo dos Lipídios
Os lipídios incluem as gorduras neutras ou triglicerídeos, os fosfolipídios, o colesterol. Os triglicerídios são utilizados no organismo principalmente para o fornecimento de energia para os processos metabólicos, função compartilhada pelos carboidratos. Os lipídios são utilizados em todo o corpo para formar as membranas das células e desempenhar outras funções intracelulares.
Quase todas as gorduras da dieta são absorvidas via linfa intestinal sob a forma de quilomícrons. Em seguida, os quilomícrons são transportados até o ducto torácico e lançados no sangue venoso, na junção das veias jugular e subclávia. Esses quilomícrons são removidos do plasma dentro de aproximadamente uma hora, quando a maior parte do sangue tiver passado pelos capilares do fígado, bem como do tecido adiposo. As membranas das células adiposas contém grandes quantidades da enzima denominada lipoproteína lipase. Esta enzima hidrolisa os triglicerídios dos quilomícrons em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos, por serem altamente miscíveis nas membranas celulares, difundem-se imediatamente para o interior das células adiposas. Uma vez no interior destas células, eles são ressintetizados em triglicerídios e irão constituir o novo glicerol a ser fornecido aos processos metabólicos pelas células adiposas. Quando os lipídios armazenados nas células adiposas precisam ser utilizados em outras partes do corpo, geralmente para fornecer energia, devem ser inicialmente transportados para outros tecidos.
Este transporte é feito quase totalmente sob a forma de ácidos graxos livres, resultantes da hidrólise dos triglicerídios armazenados nas células adiposas, produzindo novamente ácidos graxos e glicerol. Ao sair das células adiposas, os ácidos graxos se ionizam fortemente no plasma e combinam-se de imediato com a albumina através de uma ligação frouxa, sendo liberados nas regiões onde houver necessidade. No estado pós-absortivo, quando não há quilomícrons no sangue, mais de 95% de todos os lipídios no plasma encontram-se na forma de lipoproteínas, que são partículas muito menores que os quilomícrons, porém de composição semelhante, contendo misturas de triglicerídios, fosfolipídios, colesterol e proteína.
Os quilomícrons possuem tanto lipídios quanto lipoproteínas em seu interior. As lipoproteínas são divididas em três classes principais: (1) as lipoproteínas de densidade muito baixa ou VLDL, que contêm altas concentrações de triglicerídios e concentrações moderadas de fosfolipídios e colesterol; (2) as lipoproteínas de baixa densidade ou LDL, que contêm relativamente poucos triglicerídios, mas porcentagem muito alta de colesterol; e (3) as lipoproteínas de alta densidade ou HDL, que contêm cerca de 50% de proteína, com concentrações menores de lipídios. As lipoproteínas são formadas quase totalmente no fígado, sendo fato que a maior parte de fosfolipídios, do colesterol e triglicerídios do plasma (à exceção daqueles existentes nos quilomícrons) são sintetizados no fígado.
A principal função das lipoproteínas do plasma é a de transportar seus tipos especiais de lipídios por todo o corpo. Os triglicerídios são sintetizados principalmente a partir dos carboidratos no fígado, sendo transportados nas VLDL para o tecido adiposo e outros tecidos periféricos. As LDL são os resíduos das VLDL após liberação da maior parte dos triglicerídios no tecido adiposo. Por sua vez, as HDL transportam o colesterol dos tecidos periféricos para o fígado; por conseguinte, este tipo de lipoproteína desempenha papel muito importante na prevenção do desenvolvimento da aterosclerose.
A gordura é armazenada em grandes quantidades em dois tecidos importantes do corpo, o tecido adiposo e o fígado. A principal função do tecido adiposo é o armazenamento dos triglicerídios até que eles sejam necessários ao suprimento de energia em outras partes do corpo. Uma função subsidiária é o isolamento térmico. As principais funções do fígado no metabolismo dos lipídios são: (1) degradar os ácidos graxos em compostos pequenos para o suprimento de energia; (2) sintetizar triglicerídios a partir dos carboidratos e, em menor grau, das proteínas; e (3) sintetizar outros lipídios a partir dos ácidos graxos. A degradação e a oxidação dos ácidos graxos ocorre nas mitocôndrias para formar grandes quantidades de ATP. Toda vez que o organismo recebe uma quantidade maior de carboidratos do que a que será utilizada imediatamente ou armazenada sob a forma de glicogênio, o excesso é rapidamente convertido em triglicerídios e, a seguir, armazenado nesta forma no tecido adiposo.
A maior parte da síntese de triglicerídios ocorre no fígado, porém uma diminuta quantidade também ocorre nas células adiposas. Os triglicerídios formados no fígado são, em sua maior parte, transportados pelas VLDL até as células adiposas, para serem armazenados até que haja necessidade de energia. Muitos aminoácidos podem ser convertidos em acetil Co-A e esta pode ser convertida em triglicerídios. A estimulação simpática liberadora de adrenalina favorece a degradação de lipídios para obtenção de energia.
O estresse estimula a liberação de corticotropina pela hipófise anterior, que por sua vez estimula o córtex supra-renal a secretar quantidades excessivas de glicocorticóides (principalmente cortisol) estimulando a degradação de lipídios e produção de energia.
A aterosclerose é sobretudo uma doença das grandes artérias, caracterizada pelo aparecimento de depósitos lipídicos, denominados placas ateromatosas, nas camadas internas das artérias. Estas placas contêm quantidade especialmente grande de colesterol.
Num estágio mais avançado da doença, os fibroblastos infiltram-se nas áreas em degeneração e provocam esclerose progressiva das artérias. Além disso, ocorre quase sempre precipitação de cálcio com os lipídios, formando placas calcificadas. O termo aterosclerose significa endurecimento das artérias. As placas ateromatosas quase sempre se rompem na íntima e se projetam no sangue que flui pela artéria; a aspereza de sua superfície provoca a formação de coágulos sanguíneos, com consequente formação de trombos que, em movimento, transformam-se em êmbolos.
Quase metade de todos os seres humanos morre em consequência de alguma complicação de aterosclerose, cerca de dois terços dessas mortes são provocados por trombose de uma ou mais artérias coronárias, e, um terço restante, por trombose ou hemorragia de vasos em outros órgãos do corpo – especialmente o cérebro, rins, fígado, trato gastrintestinal e membros.
As HDL constituem uma entidade altamente distinta das VLDL e LDL. Elas também são formadas principalmente pelo fígado, mas têm a capacidade de remover o colesterol dos tecidos. Sabe-se que pessoas com níveis sanguíneos elevados de HDL têm menos probabilidade de desenvolver aterosclerose.
Nenhum comentário:
Postar um comentário